Por que o tamanho da turma e a mentalidade dos alunos não são barreiras para o ritmo flexível

Wilson Azevedo
7 min readMay 7, 2021

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Jon Bergmann | 6 de Maio de 2021

Tradução: Wilson Azevedo
(terceiro de uma série de artigos que, autorizado pelo autor, traduzirei para o Português à medida que forem sendo publicados)

Alguns de seus alunos foram ficando muito para trás? Você sente como se estivesse segurando alguns alunos para que não avancem enquanto procura atender aos que têm dificuldade? Até que ponto você simplesmente segue em frente esperando que mais adiante os alunos que estão atrasados alcancem os demais? Misture um pouco de ensino pandêmico nessa receita e esse problema acaba multiplicado por algum número absurdo.

Entre para a Aprendizagem para o Domínio, onde os alunos só avançam quando dominam o conteúdo. Como os alunos aprendem em ritmos diferentes, faz todo sentido permitir que aprendam em seu próprio ritmo. Mas tornar realidade isso, bem — parece assustador — até mesmo impossível. E se você trabalha seis tempos por dia com 30 alunos por turma, como é que você faz para isso funcionar?

Este artigo é parte de uma série em que discutiremos como você pode tornar a Aprendizagem para o Domínio uma realidade. Vou compartilhar como eu e milhares de outros professores transformamos as salas de aula em um lugar onde todos os alunos se saem bem. Em meus artigos anteriores, aprendemos que você nunca mais vai precisar dar aulas expositivas para toda a turma ao mesmo tempo. Hoje vamos focar na logística para trabalhar com ritmo flexível.

Você tem que definir um ritmo

Primeiro, leia com atenção: eu não disse em seu próprio ritmo. Eu disse, em um ritmo flexível . Em minha experiência, se eu deixasse todos os alunos seguirem seu próprio ritmo, alguns alunos não teriam um ritmo. Escolheriam fazer muito pouco e não aprenderiam nada.

Na maioria das salas de aula voltadas para o Domínio, o professor estabelece um ritmo ideal. Ele diz aos alunos que eles devem fazer x no tempo y. Na minha sala dou aos alunos metas semanais. Eles devem dominar, digamos, o objetivo 15.4 até o final da semana. Se não o fizerem, sua nota será afetada. Na maioria dos casos, isso é motivação suficiente para fazê-los acompanhar.

Em vez de todos os alunos estarem exatamente no mesmo lugar no programa, eles estão em lugares semelhantes. Isso é importante porque assim permito apenas um certo grau de caos na sala. Esse problema é exacerbado em minhas aulas de ciências porque as práticas de laboratório acabam não sendo todas feitas ao mesmo tempo. Isso significa que tenho um laboratório organizado para cerca de uma semana e os alunos devem concluir suas atividades dentro dessa janela de tempo.

O maior problema: o que fazer com os retardatários

A grande questão na Aprendizagem para o Domínio é esta: o que fazer com os alunos que vão ficando para trás — os retardatários. Descobri que retardatários se atrasam por dois motivos comuns:

  • Eles estão genuinamente tendo dificuldades com o currículo e precisam de apoio extra.
  • Eles não estão suficientemente motivados para trabalhar pesado.

Para o primeiro grupo, tenho muita empatia e trabalho com eles. Passarei mais tempo com eles individualmente e ajustarei suas tarefas. Também analisarei com atenção os objetivos essenciais de uma determinada unidade e geralmente farei com que eles pulem alguns dos tópicos não essenciais. Vou fazendo isso à medida que as coisas vão acontecendo e tomo decisões imediatas enquanto trabalho com os alunos.

Para o segundo grupo, eu simplesmente faço coisas de bom professor. Comunico-me com eles sobre o seu atraso, conecto-me com outros adultos da escola que podem ajudar, ligo para os pais ou investigo mais sobre eles para descobrir o que os motiva. Tudo isso vai acontecendo num contexto de relacionamentos positivos com os alunos. Acho que a melhor técnica motivacional é fazer com que os alunos se sintam cuidados e apoiados. Os alunos que enfrentam mais dificuldades trabalharão muito mais para um professor que investe neles.

Vamos prosseguir e nos aprofundar em algumas estratégias específicas.

Identificando Objetivos Essenciais

Ensino ciências e, dentro de cada unidade, há o que eu chamaria de objetivos mais importantes e objetivos não tão importantes. À medida que os alunos progridem em uma determinada unidade, vou colocando os objetivos não tão importantes no final da unidade. Dessa forma, se alguns alunos não dominarem cada objetivo, serão os não tão importantes que eles deixarão de dominar. Assim, alguns alunos retardatários não aprenderão algumas coisas. Estou perfeitamente OK com isso. Mas eles terão aprendido os objetivos mais importantes.

O benefício dessa abordagem é que posso manter meus alunos mais ou menos no mesmo ritmo. Isso simplifica a questão do ritmo, da organização e minimiza o caos numa sala de aula de Aprendizagem para o Domínio.

Como já trabalhei com inúmeros outros professores que adotam a Aprendizagem para o Domínio, sei que todos eles percebem o que é e o que não é essencial. E ser capaz de lançar algum conteúdo e estar OK em ter alunos que não sejam expostos a tudo às vezes pode ser um grande obstáculo para alguns professores. Se você tem dificuldade com isso, eu simplesmente perguntaria: “É melhor que eles realmente aprendam, digamos, 85% do seu conteúdo, ou que eles sejam expostos a 100%, mas não aprendam realmente nada?”

Enquanto escrevo este artigo, tenho um aluno em minha sala. Acabei de orientá-lo a pular o último objetivo da unidade e agora ele está fazendo sua avaliação somativa com alguns dias de atraso. Dei a orientação dizendo que ele tem conhecimento suficiente para demonstrar domínio sobre os objetivos essenciais.

Organizando a sala

Embora a COVID tenha mudado significativamente a forma como eu organizo minha sala para o Domínio, organizar sua sala é fundamental. A chave é preparar a sua sala para ter muitos espaços flexíveis onde você possa agrupar os alunos que estão trabalhando juntos. No meu caso, consulto minha prancheta para saber onde cada um está e, a cada dia, distribuo os alunos em pequenos grupos. Lisa MaCaulley, uma professora de matemática do oitavo ano em Gurnee, Illinois, tem letras penduradas no teto, e os alunos recebem uma letra diferente a cada dia, dependendo do quão avançados eles estão. Os alunos que estão trabalhando mais à frente ficam no grupo A e os que estão um pouco atrás vão para o grupo B, etc. Esses grupos mudam a cada dia e ela assim cria um ambiente onde não há estigma por se sentar em um grupo qualquer.

No meu caso, também tenho áreas específicas organizadas para experimentos. O experimento A está em uma estação, o experimento B está na segunda estação e assim por diante. Isso requer um planejamento significativo, mas tão logo os alunos entendem o sistema, eles simplesmente se adaptam e seguem com esse aprendizado.

O outro problema: alunos que avançam demais

Você tem seus retardatários, é claro, mas o que você faz com os alunos que estão ansiosos e prontos para aprender? Esses alunos, em particular, representam um problema durante o seu primeiro ano de Aprendizagem para o Domínio. Eles vão pressioná-lo para adiantar as coisas. Eles perguntarão quando a próxima unidade estará pronta e às vezes você não estará pronto.

Mas, tal como o grupo de retardatários, descobri que os “velozes” se enquadram em duas categorias:

  • Alunos que estão indo bem e super interessados.
    Esses alunos são os que testam seu sistema. Agradeça por eles e convide-os para ajudá-lo a ser melhor.
  • Alunos que estão apenas tentando “ticar os quadrinhos”.
    Se existe um “lado sombrio” na Aprendizagem para o Domínio, são aqueles alunos que estão apenas tentando terminar mais rápido e não entendem para valer o material de estudo. Eles gostam de “ticar os quadrinhos”. Eu diria que esses alunos serão seus maiores desafios. Os alunos que se enquadram nessa descrição em minhas turmas acabam ficando muito frustrados. Eles entregam o trabalho e eu o devolvo para que façam novamente. Eles ficam chateados porque “fizeram” o trabalho. Mas eles não o dominaram. Às vezes, é tentador permitir que os “ticadores de caixinhas” tiquem seus quadradinhos. É aqui que insisto para que os alunos expliquem ou se saiam bem. Não vou aceitar nada que não seja o verdadeiro domínio de um conteúdo. Tive um aluno agora de manhã que chegou perto de 80% em uma avaliação somativa (mantenho a expectativa de que todos os alunos obtenham 80% ou mais). Ele queria que eu o deixasse seguir em frente. Depois de tudo ele disse: “Estou quase lá”. Mas estou segurando a linha. Ele precisa de mais reforço e acredito que demonstrará domínio. O que descobri com esses alunos é que quanto mais você “segura a linha”, mais eles percebem que o objetivo da aula é aprender e não “ticar caixinhas”. Eu gostaria de poder dizer que tenho sido muito bem-sucedido nisso em minhas turmas, mas sinto que muitos só vão mudar seu jeito de pensar à medida que o ano letivo avançar.

Amarrando as coisas

Eu sei que isso pode parecer meio caótico, mas acredite em mim, simplesmente funciona. A qualidade e a quantidade de minhas interações com os alunos são fantásticas. Estou mais como um treinador do que como professor. Claro, sou um especialista em meu conteúdo. Conheço o assunto, mas sou mais Dumbledore (sábio conselheiro) que Snape (professor que se põe de pé e entrega conteúdo). Se você adotar esse modelo, descobrirá que seu papel muda de muitas maneiras.

Recursos Adicionais

Se você quiser saber mais sobre a Aprendizagem para o Domínio, acesse jonbergmann.com/community e junte-se à comunidade. Você também pode ler os outros artigos desta série.

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Wilson Azevedo
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Written by Wilson Azevedo

Trabalho com Educação Online e Inovação Educacional desde 1994. Tenho formação em Filosofia, Antropologia e Educação. http://linktr.ee/wilsonazevedo

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