Interações objetivas entre professor e aluno todos os dias — pra valer!

Wilson Azevedo
6 min readAug 5, 2021

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Jon Bergmann | 03 de agosto de 2021

Tradução: Wilson Azevedo
(quinto de uma série de artigos que, autorizado pelo autor, traduzirei para o Português à medida que forem sendo publicados)

Você encontra dificuldade para garantir que cada interação professor-aluno tenha um propósito? Sente que tem interações diárias suficientes com seus alunos? Quer ter conversas mais significativas com seus alunos? Quer tornar sensacional o seu ano escolar?

Enquanto escrevo isso, muitos de vocês estão imersos nas férias de verão (eu também). É um momento de rejuvenescimento. Mas é também um momento de reflexão. Como podemos melhorar nossas aulas? E, além de tudo isso, todos nós acabamos de passar e, até certo ponto, ainda estamos passando por uma pandemia que revirou toda a educação. Portanto, se você está lendo isso agora, quero incentivá-lo a reservar um tempo para si mesmo e recarregar as baterias neste verão, se ainda não o fez.

Se você está no estágio de reflexão, deixe-me dar algumas idéias sobre como você pode turbinar suas interações professor-aluno. Este artigo faz parte de uma série em que discutiremos como você pode tornar realidade a Aprendizagem para o Domínio. Nesta série, estou compartilhando como eu e milhares de outros professores transformamos salas de aula em um lugar onde todos os alunos se saem bem. Nos meus artigos anteriores, eu dei uma visão geral da Aprendizagem para o Domínio , depois aprendemos que você nunca mais vai precisar dar aulas expositivas para toda uma turma ao mesmo tempo, como criar um ritmo flexível para outros alunos e Diferenciação Extrema que não deixe você louco. Se você ainda não leu os outros artigos, eu o incentivo a voltar para que você possa ver essa série sobre como fazer bem a Aprendizagem para o Domínio.

Tempo é a chave

Como ensino usando o modelo Flipped-Mastery, uso mais de 90% do meu tempo de aula interagindo com os alunos, individualmente ou em pequenos grupos. Dedico esse tempo a ouvir os alunos perguntando paramim ou para seus colegas, avaliando-os constantemente de maneira formativa. Não tenho certeza de como teria tantas conversas significativas com os alunos a menos que usasse o modelo Flipped-Mastery. O deslocamento do tempo de instrução direta da sala para a casa me libera para ajudar pra valer os alunos.

Mudar o seu cérebro rapidamente é essencial

A maioria dos professores da Aprendizagem Invertida também concordaria com o elemento tempo, mas com a Aprendizagem para o Domínio acontece uma reviravolta. Como os alunos vão avançando no programa em ritmos ligeiramente diferentes, eu tenho que estar pronto para os alunos que estão em diferentes estágios de sua jornada de aprendizagem. Isso requer um domínio profundo da minha própria disciplina. Isso porque num momento estarei pensando em trovoadas e quando for trabalhar com o próximo aluno estaremos falando sobre furacões. E para aumentar a complexidade, permito que alunos de outras turmas entrem e trabalhem no horário da turma com a qual estou. Então, eu também posso ter um aluno de física na sala de aula de geologia querendo perguntar sobre campos eletromagnéticos.

Quero ser honesto com você. Eu gostaria de poder dizer que sou um verdadeiro mestre em tudo o que ensino, mas isso não é verdade. Sou um químico que também ensina física e geologia. Muitas vezes tive alunos que fizeram perguntas sobre as quais eu não tinha nenhuma pista. Também não andei tão bem preparado para conversas orientadas como eu gostaria. Mas descobri que a aprendizagem é melhor quando se desenvolve como uma jornada de descoberta. Adoro quando algum aluno faz uma pergunta maluca e então exploramos a resposta juntos. Lembro-me de um dos meus alunos chineses de intercâmbio compartilhando comigo sobre como eles usam animais (principalmente galinhas) para ajudar a prever terremotos na China. Isso não estava no nosso livro, então eu passei a inserir no programa.

Tornando mais profundas as interações

Agora que tenho tempo extra e ando pela sala interagindo com os alunos, o que faço para isto ser mais profundo? Eu chamo essas interações de “checagem de domínio”, e essas checagens são a razão para eu ainda estar ensinando. Adoro ajudar os alunos a aprofundarem seu aprendizado e ver seus momentos de “eureca”. Então, como faço para maximizar o tempo?

  • Ande com uma prancheta

Então o que realmente faço? Confira o vídeo abaixo de um dia típico da minha vida (pré-pandemia). Como você pode ver, meu papel é andar pela sala de aula e conversar com os alunos. Simplesmente eu sou o sujeito com uma prancheta. Observe que no vídeo eu estava usando um iPad, mas ultimamente voltei para a velha prancheta analógica. Com o dispositivo digital, eu ficava sempre procurando o quadradinho certo para marcar. Isso tirava meu tempo com os alunos, então voltei para uma simples prancheta.

  • Peça para os alunos fazerem perguntas

Aprendi no início de minha jornada em Aprendizagem Invertida para o Domínio a primeiramente fazer os alunos falarem. Entrar na cabeça deles exige que antes eu fique quieto e ouça . Meus alunos sabem que cada um deve trazer uma pergunta ou uma observação interessante para cada checagem de domínio. Normalmente peço que examinem suas anotações de vídeos ou de textos e desenvolvam uma boa pergunta. Essas perguntas são um insight poderoso para a compreensão de um tópico pelo aluno. Às vezes, suas perguntas revelam um equívoco. Outras vezes, suas perguntas são muito superficiais e precisam ir mais fundo. E às vezes suas perguntas me levam a ir mais fundo e então exploramos coisas legais juntos.

  • Prepare perguntas-chave com antecedência — com perguntas de acompanhamento

Uma coisa em que preciso melhorar é ter perguntas-chave para cada checagem de domínio. Já que uma checagem de domínio cobre um objetivo-chave de aprendizagem, sempre há uma ou duas questões essenciais que vão ao cerne da aprendizagem. Não tenho me saído bem em anotar isso na minha prancheta e estar pronto para perguntá-los. Se a resposta a essa pergunta vier durante o horário do encontro com aluno, então isso é ainda melhor.

  • Peça-lhes para demonstrar que dominam o conteúdo

Recentemente, estive conversando com Grayson Marsh, um professor que aplica Aprendizagem para o Domínio do “7º ao 8º ano” na Escola Primária Ashurst em Ashurst, Nova Zelândia, e ele fez um comentário que me impressionou. Ele pede a seus alunos que demonstrem que dominaram cada objetivo de aprendizagem. Eu ainda não faço isso. E para que eu venha a fazer isso, precisarei ter muito claro o objetivo específico de cada lição. Preciso que os alunos vejam isso com antecedência e saibam que estarei pedindo a eles que demonstrem domínio. Grayson diz que simplesmente usar a palavra domínio aumentou imensamente a qualidade de seu trabalho com alunos.

  • Torne-se um Melhor Perguntador

Ao fazer milhares de “checagens de domínio”, descobri que me tornei um perguntador melhor. Quando eu costumava ensinar de maneira mais tradicional, dava aulas expositivas sobre um tópico específico uma vez por ano (talvez mais se eu desse a mesma aula várias vezes durante o dia). Como as conversas agora não são mais na frente de toda uma turma, mas individualmente ou em pequenos grupos, descobri que assim conversava mais com os alunos e ganhava muito mais prática em fazer perguntas melhores. Interagindo dessa forma, tornei-me exponencialmente um melhor perguntador. Eu até mesmo elaboro as perguntas de forma diferente para diferentes alunos. Para alguns alunos, minha matéria é muito difícil e quero que eles tenham uma compreensão mais geral do material. Para outros, a aula está no seu melhor ponto e quero que eles aprofundem sua compreensão.

Divirta-se

Amo meu trabalho. Amo meus alunos. E adoro ter conversas profundas com os alunos sobre a beleza do mundo natural. Acho que o modelo Flipped Mastery me permite brincar com o conhecimento — ou melhor, podemos brincar com o conteúdo juntos. Eu sei que pode parecer e soar caótico, mas eu nunca mais voltaria atrás.

Há duas semanas, um aluno que não está em nenhuma das minhas turmas se aproximou de mim e perguntou se a física era ensinada usando o modelo Flipped-Mastery. Eu disse a ele, sim, e ele deu um grande suspiro de alívio. Ele estava com um pouco de medo de encarar essa matéria e temia que fosse muito difícil. Disse-lhe então que não poderia, em “sã consciência”, ensinar de outra maneira. Eu vi os resultados. Tenho visto alunos que aprendem profundamente. Eu os vi se conectarem e me sinto mais conectado com meus alunos do que nunca.

Portanto, se você deseja ter interações mais profundas com os alunos, encorajo-o a explorar o modelo Flipped Mastery. Simplesmente funciona. Se você quiser saber mais sobre Aprendizagem para o Domínio, continue lendo e junte-se à nossa comunidade.

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Wilson Azevedo
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Written by Wilson Azevedo

Trabalho com Educação Online e Inovação Educacional desde 1994. Tenho formação em Filosofia, Antropologia e Educação. http://linktr.ee/wilsonazevedo

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